São Paulo Pela Primeira Infância e Escola da Família
Construção de um portfólio de ações sobre o desenvolvimento da primeira infância para o programa escola da família da diretoria de ensino de Jundiaí no contexto do programa São Paulo pela primeiríssima infância-Região de Jundiaí
Lígia Maria de Almeida Bestetti – Articuladora de atenção básica e articuladora regional do Programa São Paulo pela Primeiríssima Infância (SPPI) – Secretaria de Estado da Saúde – Governo do Estado de São Paulo
Christianne Lima Nascimento – Consultora em Formação para o Desenvolvimento Infantil
Rosangela Araújo Nery – Integrante do Programa SPPI de Itupeva – SP
Teresa Cristina Betelli Piccolo – Integrante do Programa SPPI de Itupeva – SP
Vera Bruder – Integrante do Programa SPPI de Itupeva – SP
Marcos Davi dos Santos – Formador de profissionais para o desenvolvimento infantil Intersetorial. Médico e psicoterapeuta corporal neorreichiano. Idealizador do Instituto Primeiros Anos – Desenvolvimento Humano (IPADH) e da Rede a.tempo
RESUMO: Introdução: melhorar a qualidade da atenção e do atendimento exige que profissionais se apropriem dos conceitos e práticas sobre o DPI. É essencial investir em processos de formação continuada que estimulem a aprendizagem profissional e a colaboração em grupo. De maneira inédita na região de Jundiaí, a proposta principal dessa formação direcionou-se aos profissionais do Programa Escola da Família.
Objetivo: disseminar conhecimento e aprimorar práticas de DPI entre os educadores com proposição da elaboração de um portfólio de ações a serem implantadas nas escolas do Programa Escola.
Metodologia: formação profissional em módulos de quatro horas, em encontros semanais, totalizando oito encontros com carga horária de 32 horas, aplicando-se metodologia participativa através de exposições dialogadas, dinâmicas de grupo e atividades lúdicas.
Resultados: Foram elaboradas 29 ações para os seis temas principais. Destes, após revisão em plenária, resultaram 27 ações que constituíram um portfólio. Discussão: dentre os temas trabalhados, aqueles ligados a espaços lúdicos, humanização do parto e pré-natal, puerpério e amamentação tiveram um maior de número de ações elencadas para implantação na Escola da Família. Cuidar e educar, uma adaptação do tema Educação Infantil, teve menor apelo, assim como o tema sobre grupos.
Conclusão: Os resultados apontam para a relevância de inciativas de formação em DPI voltadas para os educadores da Escola da Família por seu privilegiado contato/interação em espaços de conversa com adolescentes grávidos/as e com sua comunidade escolar correspondente, gerando oportunidades de disseminação do conhecimento em DPI e de abordagens relacionadas ao planejamento familiar e ao cuidado de crianças numa perspectiva integral.
PALAVRAS CHAVE: Formação em desenvolvimento da primeira infância; Intersetorialidade; Escola da Família.
1. Introdução
O Programa Primeiríssima Infância (SPPI) tem como pressuposto a articulação entre os Poderes Públicos com organizações não governamentais que busca qualificar a atuação de instâncias públicas estaduais e municipais, das famílias e dos profissionais que atuam com educação, saúde e assistência social para potencializar a promoção integral e integrada do Desenvolvimento da Primeira Infância (DPI), da gestação até os três anos, em âmbito regional.
Melhorar a qualidade da atenção e do atendimento exige que profissionais se apropriem dos conceitos e práticas sobre o DPI e, para tanto é essencial investir em processos de formação continuada, que estimulem a aprendizagem profissional e a colaboração em grupo.
Tal formação deve capacitar os profissionais para assegurar o vínculo, o estímulo adequado e o cuidado sensível na gravidez, durante o parto, nos cuidados durante o puerpério e amamentação, com prosseguimento na fase de puericultura, incentivando a criação de grupos de reflexão sobre os papéis/funções materno e paterno no cuidado da criança, bem como sobre a importância da rede de apoio à família na viabilização desse cuidado. Articular e atuar em rede no desenvolvimento de ações de promoção nas escolas, nos espaços lúdicos comunitários, nos serviços de saúde e na assistência social também são algumas vias de encaminhamento desses processos.
A formação e o comprometimento dos profissionais e da comunidade garantem a continuidade e o aprimoramento do SPPI.
De maneira inédita na região de Jundiaí, a proposta principal dessa formação direcionou-se aos profissionais do Programa Escola da Família (PEF), da Secretaria Estadual de Educação – Diretoria de Ensino de Jundiaí, numa oportunidade ímpar de promoção do DPI para educadores em contexto diferente daquele da Educação Infantil, campo mais comumente associado ao DPI.
2. Objetivos
Disseminar conhecimento e aprimorar práticas de DPI entre os educadores com proposição da elaboração de um portfólio de ações a serem implantadas nas escolas do Programa Escola da Família da Diretoria de Ensino de Jundiaí que agrega seis municípios: Jundiaí, Louveira, Cabreúva, Itatiba, Jarinu e Morungaba.
3. Metodologia
Formação profissional em módulos de quatro horas, em encontros semanais, totalizando oito encontros com carga horária de 32 horas, aplicando-se metodologia participativa através de exposições dialogadas, dinâmicas de grupo e atividades lúdicas, com os seguintes temas:
1. Sensibilização para o DPI e discussão da proposta pedagógica com os educandos;
2. Formação em práticas ampliadas no pré-natal, puerpério e amamentação (PNPA);
3. Formação em trabalho com grupos: famílias grávidas e com crianças com até três anos (GR);
4. Formação em humanização do parto e nascimento (HPN);
5. Formação em espaços lúdicos (EL);
6. Formação em puericultura: práticas ampliadas (PCT);
7. Formação em cuidar e educar (CE);
8. Apresentação de um portfólio com a síntese das ações construídas coletivamente durante os encontros anteriores.
As ações foram sendo elaboradas ao final de cada módulo em atividade por subgrupo. Cada conjunto de ações era encaminhado a um revisor para verificação da adequação entre a ação e o tema. O oitavo módulo permitiu a revisão das ações e construção de um portfólio, chegando-se à versão final consensual.
4. Resultados
Com grande envolvimento e participação de todos os 30 educandos participantes, foi possível observar a mudança de perspectiva dos alunos em relação ao desenvolvimento infantil e suas correlações com o desenvolvimento na adolescência, público da Escola da Família. Os relatos de modificações na visão dos educandos apontam para uma sensibilização para o DPI. Foram elaboradas 29 ações para os seis temas principais. Destes, após revisão em plenária, resultaram 27 ações que constituíram um portfólio: HPN = 7, CE = 1, EL = 8 GR = 1, PNPA = 6, PCT = 4.
5. Discussão
Dentre os temas trabalhados, aqueles ligados a espaços lúdicos, humanização do parto e pré-natal, puerpério e amamentação tiveram um maior de número de ações elencadas para implantação na Escola da Família. Cuidar e educar, uma adaptação do tema Educação Infantil, teve menor apelo, assim como o tema sobre grupos. Os resultados podem estar correlacionados ao cotidiano do educador da Escola da Família que atua essencialmente com adolescentes, com temáticas que estão em relação mais direta com a emergência da sexualidade e a gravidez precoce.
6. Conclusão
Os resultados apontam para a relevância de inciativas de formação em DPI voltada para os educadores da Escola da Família por seu privilegiado contato/interação em espaços de conversa com adolescentes grávidos/as e com sua comunidade escolar correspondente, gerando oportunidades de disseminação do conhecimento em DPI e de abordagens relacionadas ao planejamento familiar e ao cuidado de crianças numa perspectiva integral. O portfólio resultante pode ser visto na tabela 1.
Tabela 1. Portfólio de ações de Desenvolvimento da Primeira Infância no contexto da Escola da Família.
Humanização do parto e nascimento
1. Rodas de conversas de adolescentes com professores e psicólogos: da prevenção da gravidez indesejada aos cuidados com o bebê após o nascimento. Apresentar ou reforçar as ações de planejamento familiar com o apoio de profissionais da Saúde, estimulando a reflexão dos/as adolescentes sobre concepção e momento de vida.
2.Acompanhamento do pré-natal pelo Cartão da Gestante e visita domiciliária nos casos de maior vulnerabilidade social para melhorar a expectativa de vida, destacando-se a importância do pré-natal para o desenvolvimento da criança e bem-estar da gestante.
3.Grupos mensais de famílias grávidas adolescentes na escola abordando os assuntos cotidianos de interesse dos/as adolescentes.
4.Sensibilização para os profissionais de educação sobre gravidez, parto e puerpério. Compartilhar na escola o conhecimento adquirido na formação, conscientizando a comunidade escolar sobre o pré-natal e parto.
5.Conhecer, por meio da obtenção de dados, as/os adolescentes grávidos/as para melhor orientá-los/as para que tenham uma assistência pré-natal adequada, minimizando os riscos da gestação e parto na adolescência.
6.Promover palestras, debates e discussões sobre planejamento familiar, pré-natal e humanização do parto e nascimento.
7.Promover o parto natural e humanizado por meio da exibição de vídeos, filmes e palestras sobre o tema em parceria com a UBS.
Cuidar e Educar
1. Contribuir para a adaptação do aluno à nova escola, com apoio da legislação, evitando suspensões, punições e mediando conflitos, com apoio dos pais/responsáveis; inclusive, proporcionando oficinas de capacitação para estes, para fortalecer o vínculo escola-família-comunidade. Fortalecimento da rede de apoio, com a adesão de universitários e com capacitação dos profissionais. Promover o protagonismo juvenil em todas as etapas.
Espaços lúdicos
1. Promoção da ludicidade adolescente por meio de gincanas, integrando a comunidade na elaboração e nas etapas da gincana. Ex.: corrida de saco, corrida de ovo com colher, bolinhas de gude, ioiô e outros.
2. Prevenção de drogas e doenças sexualmente transmissíveis: confecção de lacinhos vermelhos alusivos ao tema e distribuição de camisinhas nos locais e quando adequados de acordo com cada contexto escolar.
3. Sala “Faz de conta”: imaginário e criatividade, com registro de relatos e fotos.
4. Resgate de brincadeiras antigas com confecção de brinquedos e promoção do brincar.
5. Espaço “Jovem skatista”: área de escuta onde será afixado um mural com a participação de skatistas. Criação de portfólio de resultados.
6. Prevenção lúdica de gravidez na adolescência, bairro Santo Antônio e Centro: Projeto de palestras com assunto dirigido.
7. Prevenção de gravidez na adolescência, bairro Santo Antônio e Centro: abrir duas casas do adolescente. Acompanhamento permanente com consultas médicas e odontológicas, oficinas em ações educativas em campo. Cuidado especializado ao adolescente.
8. Oficina de pipas: confecção de pipas, desde a confecção das varetas, armação, colagem e finalização, ensinando os participantes o passo a passo da confecção de objetos culturais e lúdicos.
Grupos
1. Oficinas para trabalhar o nascimento, vínculo mãe-bebê e pai-mãe-bebê destacando a importância do cuidado desde a gestação para o desenvolvimento psíquico utilizando a estratégia “o olho de Deus”.
Pré-natal, puerpério e amamentação
1. Palestras sobre pré-natal, puerpério e amamentação em conjunto com profissionais de saúde.
2. Encontros com alunos/as e ex-alunas/os grávidas/os e mães com exibição do documentário “As meninas”, da diretora Sandra Werneck (disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f9X8WSWiI2I) seguindo-se roda de conversa. Conversar sobre “projeto de vida”.
3. Oficinas temáticas sobre pré-natal, puerpério e amamentação tendo como estratégias: culinária, dança etc. Apoio da terapia ocupacional.
4. Oferecimento de opções básicas sobre pré-natal, puerpério e amamentação com apoio da Faculdade de Medicina.
5. Circuito de filmes e curtas sobre sexualidade na adolescência, gestação e parentalidade.
6. Intervenções curtas para conscientização de adolescentes sobre gravidez precoce por meio de cartazes, vídeos, diálogos, dramatizações etc. Apoio: PEF, bolsistas, parceiros e posto de saúde.
Puericultura
1. Promover encontros com os pais/responsáveis para debates sobre o desenvolvimento físico e psicológico de adolescentes e seus filhos, envolvendo lideranças comunitárias.
2.Encontro de pais com roda de conversa sobre vínculos afetivos e adolescência com apoio de vídeo de sensibilização.
3.Contação de histórias e /ou teatro para despertar ludicidade nos pais como estratégia de inserção destes nas atividades da escola. Apoio: grupo de facilitadores.
4.Oficinas relacionadas aos cuidados com as crianças destinadas aos homens. Apoio: universitários e Saúde.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, A. L. R. [et al.]. Formação em trabalho com grupos: famílias grávidas e com crianças de até três anos. Coleção primeiríssima infância, v. 4, 1ª. ed. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2014.
MARTINS, J.; SANTOS, Marcos D.; VERÍSSIMO, Maria. D. L. Ó R. Formação em puericultura: práticas ampliadas. Coleção primeiríssima infância, v. 4, 1ª. ed. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2014.
PELIZON, Maria H. Formação em educação infantil: zero a três anos. Coleção primeiríssima infância, v. 4, 1ª. ed. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2014.
SANTOS, Marcos D. Formação em pré-natal, puerpério e amamentação: práticas ampliadas. Coleção primeiríssima infância, v. 4, 1ª. ed. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2014.
SAVIANI, Iraci. PINHEIRO, Risélia. Formação em espaços lúdicos. Coleção primeiríssima infância, v. 4, 1ª. ed. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2014.
SOUSA, F. L. P. Formação em humanização do parto e nascimento. Coleção primeiríssima infância, v. 4, 1ª. ed. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2014.